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Temos muitas atividades

Temos muitas atividades

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A reunião foi interessante, o resultado foi frustrante. Há alguns meses atrás participei de uma reunião de pastores, para conversarmos sobre um projeto de capacitação de líderes para suas igrejas. Eu e uma pessoa da nossa equipe viajamos por três horas para encontrar aqueles pastores numa cidade do interior, ansiosos por capacitar líderes.

Depois de compartilharmos algumas ideias e propormos um projeto de longo prazo para capacitação de líderes, passamos a ouvi-los. A expressão mais usada naquele dia foi: “Temos muitas atividades. Estamos cansados de ativismo e queremos investir em gente. Nossas agendas estão cheias e precisamos disto que vocês estão propondo.“

Até esta altura da reunião eu estava empolgado e vi a sinceridade e a angústia do coração daqueles pastores. Na etapa seguinte da reunião que durou mais uma hora eu comecei a desanimar. Eles discutiram sobre pelo menos uns 20 eventos diferentes que as igrejas daquela região fariam apenas no trimestre seguinte. Encontros, shows, acampamentos, congressos, cultos inspirativos, etc. fora todas as atividades locais que suas igrejas fariam.

Comentei com a pessoa da nossa equipe que estava comigo: “Perdemos nosso tempo. Isto aqui não vai dar em nada”. Como ele não era pastor, também saiu de lá impressionado com o número de atividades que aquelas igrejas iriam promover. De outro lado, como ele é do mundo corporativo, saiu de lá também desanimado com a análise que fez sobre a falta de foco daqueles pastores e igrejas.

Ao final da reunião, todos me agradeceram e disseram que em breve marcariam o primeiro treinamento de líderes conosco. As semanas se passaram e as desculpas começaram a chegar: “ainda não conseguimos definir a data, porque nossa agenda está cheia”. Disto eu já sabia, e apenas pensei comigo: “me fala algo novo”. Os meses se passaram, e como não havia justificativas novas para serem apresentadas, houve silêncio total.

Apenas para confirmar a minha teoria, telefonei para o presidente daquele grupo de pastores, e muito sem graça ele me disse: “Não vamos conseguir marcar o treinamento de líderes este ano (e isto ainda era maio). Vamos deixar para o próximo ano.” E depois concluiu: “Temos muitas atividades”.

Eu venho ouvindo a expressão “temos muitas atividades” cada vez mais ao longo dos últimos 30 anos de ministério. Seja nas igrejas, nas denominações ou nas organizações, as agendas estão entupidas de atividades que não satisfazem ninguém, não produzem resultados e não atingem o foco. “Temos muitas atividades” é um vírus, mortal, pior que o Zika, a Chikungunia, ou a febre amarela.

Podemos fazer uma comparação interessante. Quando olhamos para a vida financeira das pessoas, elas estão comprando o que não precisam, com o dinheiro que não têm, para impressionar as pessoas que não se importam com elas. Isto alimenta o consumismo. Na igreja, os líderes estão realizando atividades que não precisam, com o tempo que não têm, para alcançar as pessoas que não se importam com elas. Isto alimenta o ativismo.

Enquanto isto, a igreja não desenvolve discípulos, não capacita líderes e continua na superficialidade. A igreja precisa de líderes como sua “matéria prima” de sobrevivência, mas não investe nem tempo nem dinheiro para isto. Não há uma solução fácil para resolver este problema. O que sugiro é aquilo que chamo de um “cavalo de pau”. Enquanto os pastores e líderes das igrejas não mudarem radicalmente suas agendas pessoais, e depois as agendas de suas igrejas, continuarão correndo para lá e para cá, esgotados e sem foco, realizando atividades que não produzem transformação.

Esta não é uma proposta teórica. Numa equipe pastoral da qual participei nos últimos anos, tomamos essa atitude radical. Depois de concluirmos que não adiantava cortar uma coisinha aqui e outra ali no calendário da igreja, pegamos o lápis vermelho, e num só ano, reduzimos mais de 200 atividades que tínhamos, para poder investir tempo no discipulado e na capacitação de líderes. O resultado nos anos seguintes foi fantástico.

Talvez como pastor ou líder você se sinta da mesma forma na sua igreja. Lamento informar que não vai adiantar fazer mais uma reunião para discutir o assunto. Minha sugestão é dar um “cavalo de pau”. Primeiro defina o foco que sua igreja quer atingir. Depois passe o lápis vermelho em tudo que não contribui para este foco. Em seguida, você começará a ver os resultados nos anos seguintes. Não tenha pressa. Caso não queira fazer algo tão radical, provavelmente sua igreja não vai discipular pessoas e capacitar líderes porque continuarão dizendo: “temos muitas atividades”.

Josué Campanhã

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