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Assuma sua mediocridade

Assuma sua mediocridade

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Quando eu estava no ensino primário, tentei participar da produção teatral comunitária Cinderela e fiz um teste para o papel de – você adivinhou – Cinderela. Você sabe: ou tudo ou nada, certo? 

E eu consegui! E o show acabou indo da zona rural de Illinois para Nova York, e eu era a mais jovem líder a mostrar sua graciosidade num palco da Broadway. 

Oh… Liz Forkin Bohannon! O prodígio infantil do teatro musical! Eu acho que ví um especial no Bravo uma vez sobre ela, talvez você tenha pensado enquanto navegava pelas prateleiras da livraria local. 

Brincadeira. 

Você provavelmente nunca ouviu meu nome antes, porque foi assim que a audição realmente aconteceu: eu enfrentei atores experientes do ensino médio pelo papel de Cinderela. Minha mãe, uma mulher muito inteligente que certamente reconheceu a improbabilidade de um resultado “bem-sucedido”, não tentou me convencer do contrário. Na verdade, ela praticou minha música comigo, me levou à audição e sussurrou um esperançoso e sincero “Boa sorte, Lizzy Pea!” Enquanto eu passava pelas cortinas para o centro das atenções, em um palco vazio na frente de quatro assustadores juízes, eu dei o meu melhor e depois minha mãe me levou ao McDonald’s para uma comemoração de sorvete.  

Nos poucos dias entre a audição e o recebimento da ligação do diretor de elenco, me joguei, no auge dos meus oito anos, em um estudo sobre personagens da Cinderela. Sonhei com as trocas de roupa e as luzes e determinei onde poderia me esconder clandestinamente para me beliscar e sentir dor suficiente para espremer algumas lágrimas falsas e premiadas. Alguns dias depois de minha preparação para o papel dos meus sonhos, recebemos uma ligação do diretor. Eu realmente tinha entrado para o elenco! 

Meu papel era… 

Um pássaro. 

Um pássaro que sequer tinha um nome.  

Eu estava arrasada. 

Quando minha mãe me transmitiu a notícia, eu caí no choro e correndo para o closet de seu quarto, me tranquei para soluçar no escuro. É claro, estava triste pelos meus sonhos frustrados, mas também me lembro da sensação de estar completamente humilhada. 

Eu repeti mentalmente todo o treinamento que levou àquela audição. Todos os sonhos sem pudor pronunciados em voz alta, sobre como eu seria a Cinderela. Eu não podia acreditar que fi estúpida a ponto de querer tanto alguma coisa e realmente acreditar que tinha uma chance. 

Depois de alguns minutos sozinha aos prantos, minha mãe abriu a porta do armário e sentou-se comigo enquanto eu chorava. Ela coçou minhas costas e me disse que estava orgulhosa de mim por tentar. E então, em meio às lágrimas, verbalizei o que já deveria ser esperado por todas as partes: eu não participaria daquela peça estúpida, obviamente. 

E então minha doce e solidária mãe coçadora de costas sentou-se ereta e deixou bem claro que, na verdade, não era isso que iria acontecer. Eu fiz o teste e recebi um papel. E eu não tinha a permissão de desistir porque não era o papel principal, como eu imaginara. Ela me disse que os treinos começariam na segunda-feira e que eu, com certeza, estaria presente. Caso encerrado. 

E então ela me disse que, é claro, doía ser um pássaro quando você queria ser a Cinderela, mas que eu seria o melhor pássaro sem fala que o palco já viu. 

Ela ecoou as famosas palavras de Constantin Stanislavski. “Não existem peças pequenas”, disse. “Apenas atores pequenos.” 

Ela me prometeu que ajudaria a fazer uma fantasia épica de pássaro, e sentadas naquele armário escuro, debatemos o nome de um personagem porque, embora eu não pudesse mudar meu papel, eu poderia pelo menos ter algumas penas extravagantes e a dignidade de ter um nome de personagem que não seria apenas uma classificação de espécie. 

Debatemos por um tempo e finalmente decidimos “Biddy Bird”. Não importava que esse “nome do personagem” nunca alcançasse além de nós duas nem fizesse parte do programa oficial. 

Quando a noite de abertura chegou, eu, Biddy Bird quase coloquei o coração pela boca. Cantei alto, pulei sem parar, e até consegui me afastar da coreografia oficial por um segundo e sacudir minhas plumas da cauda como a rebelde, vanguardista inspiração dramática aviária que eu era. 

Eu adoraria dizer que esse papel me preparou para o meu próximo papel, que foi um pouco melhor e assim por diante, até que consegui construir uma carreira bem-sucedida no teatro. Mas, de fato, a peça seguinte que eu experimentei foi “Babes”, em Toyland, onde consegui o papel de (não vale caçoar) … TRAÇA. 

Qual é! Uma traça?! Mas voltando ao assunto. 

O objetivo dessa experiência não era, de fato, me preparar para um papel um pouco melhor e me lançar no eventual sucesso da Broadway com o qual eu sonhava. Pelo contrário, me ensinou que não somos chamados a competir pelos holofotes nem a encolher no meio do coro. Somos simplesmente chamados a descobrir o que temos para oferecer… 

o presente que temos para dar,
as palavras que temos que falar,
a arte que temos que fazer,
a música que temos que cantar, 

e só então, dar tudo de si, berrando como uma garota de oito anos que tenta ganhar um prêmio Tony por um papel sem fala, em uma produção de teatro comunitário. 

Cada um de nós tem um papel sagrado a desempenhar. 

O mundo não precisa de mais pessoas tentando desesperadamente convencer a si mesmas e aos outros que são Cinderelas especiais, acima da média, por pensarem que é isso que lhes dará destaque e que o próprio foco lhes dará uma sensação de valor e propósito. 

O mundo também não precisa de mais pessoas que se encolhem no meio do coral, porque acreditam erroneamente que estão implicitamente abaixo da média e ficam aterrorizadas com o que os outros podem pensar deles se abrirem as asas e tentarem voar. 

Porque a verdade é que você, como eu, provavelmente é. . . bem mediano. 

Eu sei, eu sei. Eu tenho um verdadeiro dom para palavras inspiradoras. Por favor, alguém faça um belo poster com letras à mão com isso: “Você é mediano”. 

Vou pedir que você confie em mim mais uma vez, para embarcarmos num pequeno experimento: toda vez que você disser ou pensar que está lutando contra uma “insegurança”, quero que você substitua a palavra “insegurança” por “ego imaturo”. 

O que? Ego? Eu? Que moça atrevida! 

Se falar sobre seu ego faz você se sentir na defensiva, permita-me redirecionar seu espanto para o frade franciscano e o professor espiritual Richard Rohr. Jogue a culpa nele! 

Rohr diz que nossos egos imaturos são “uma construção social e mental para você começar sua jornada de vida. Ele é amplamente definido, em distinção dos outros, precisamente como seu Eu único e individual. Provavelmente é necessário para começar, mas se torna problemático quando você para por aí e passa o resto da vida promovendo e protegendo-o. ” 

Nossos egos imaturos também são, problematicamente, “inadequados às grandes questões de amor, morte, sofrimento, Deus ou infinito”. 

Ele continua dizendo: “Quando você está conectado ao Todo, você não precisa mais proteger ou defender “A Parte. Agora você está conectado a algo inesgotável. 

Conectado ao Todo. Me dá arrepios todas as vezes. 

Quando você está conectado ao Todo, você perceberá que a história da qual participa e é co-autora, é TÃO GRANDE, que você não consegue mais acreditar em uma história tão pequena que o tem no centro. 

Você ficará mais apaixonado pela grandeza da Bela História e pelo que podemos realizar juntos, do que com seu próprio desempenho individual nela. 

Nesta jornada para construir uma vida com propósito e impacto, se há algo que posso prometer é que você dirá e fará a coisa errada. Você se agitará e se atrapalhará. E, às vezes, será como um acidente de trem, do qual você pensará que nunca se recuperará. Você provavelmente se machucará e dirá coisas terríveis para si mesmo que não ousaria dizer a outro ser humano. Mas uma vez após outra, você acordará no dia seguinte com um sol que não caiu do céu em consequência ao seu erro. Isso acontecerá repetidas vezes até que você finalmente comece a se libertar de seu ego imaturo que sussurra a mentira de que você é poderoso o suficiente para estragar tudo de vez. 

Richard Rohr continua nos dizendo que nossos egos imaturos são “mais falsos do que maus”. 

Eu amo isso! O que isso me diz é que eu posso parar de me castigar pelo meu ego imaturo e, em vez disso, simplesmente continuar o trabalho de ajuda-lo a crescer um pouco para que eu possa fazer parte de uma história maior e mais apetitosa. 

Ao tentar amadurecer seu ego, por favor, seja gentil consigo mesmo, da mesma maneira que você gentilmente e pacientemente ajuda uma criança a crescer e aprender, em vez de tentar reprová-la e envergonhá-la até a maturidade. O processo de amadurecer nossos egos é um trabalho de uma vida inteira, então você não precisa ser bobo quanto a isso. Seu ego imaturo costumava se adequar a você e servir a um propósito. Não é mal ou ruim, é apenas que, à medida que você se torna parte do Todo, o traje antigo que você vestiu não se encaixa mais. 

Quando paramos de ficar obcecados com a todo-poderosa curva do sino, sempre perguntando “Como me comporto?”podemos, em vez disso, colocar nossa energia em nos tornar quem fomos criados para ser e incentivar os outros a acreditar que eles também são uma parte insubstituível do todo.  Quando você assumir sua ‘mediocridade’, começará a entender que todo ser humano no planeta Terra é uma combinação e sequência únicas do Divino e carrega uma marca igualmente valiosa, única e que nunca mais será vista novamente, de magia. 

Cada um de nós é único. 

Mas não somos únicos por sermos únicos. (Complicado, eu sei.) 

Quando você começa a crer nisso, começa a canalizar toda a energia que recupera, preocupando-se com a forma como você se encaixa em uma bela visão de ambição coletiva – sonhos que elevarão a maré, não apenas para você, mas também para os outros. 

Quando você assume sua mediocridade e faz o trabalho intencional de ajudar seu ego a amadurecer, você enfrenta desafios maiores e diz sim antes de estar pronto, porque tem menos medo de falhar e está mais interessado no crescimento e no avanço. 

Você consegue canalizar cada grama de energia recuperada que gastava para se proteger e se preocupar com o que as outras pessoas pensam, para resolver problemas interessantes e construir uma vida extraordinária de propósito e impacto para si e para os outros. 

Quando você assume sua mediocridade, pode correr riscos e, finalmente, levantar voo. 

E você, Biddy Bird, em toda a sua glória medíocre, estava destinado a voar. 


Texto de Liz Bohannon

Liz Bohannon é a fundadora da Sseko Designs, uma marca de moda socialmente responsável, que trabalha para criar lideranças e oportunidades educacionais para mulheres, em todo o mundo. Ela acredita que os negócios são uma poderosa plataforma para a mudança social e que as meninas são o futuro. Nomeada pela Blommberg Businessweek como topempreendeora social e pela Forbes como uma das 20 principais oradoras. Em seu livro “Begginer’s Pluck”, lançado neste Summit, Liz usa a sua jornada para explorar 14 princípios, não para encontrar mas para criar uma vida de propósito, paixão e impacto.  

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